Mindware & Education

“Uma forma abrangente de descrever a inteligência reflexiva é dizer que ela consiste de ‘mindware’. Comparemos: ‘kitchenware’ são as ferramentas com as quais trabalhamos na cozinha; ‘software’ são as ferramentas com as quais trabalhamos no computador; ‘mindware’ são ferramentas para a mente: as ferramentas com as quais a nossa mente trabalha. Uma instância de mindware é qualquer coisa que uma pessoa pode aprender — uma estratégia, uma atitude, um hábito — e que estende a sua capacidade de pensar crítica e criativamente”.

N. Perkins, “Mindware and the Metacurriculum”,
in Creating the Future: Perspectives in Educational Change,
livro compilado e editado por Dee Dickinson.

[NOTA]

1. Esse livro foi publicado originalmente em papel por Accelerated Learning Systems, em 1991. Está esgotado, mas ainda é vendido, usado, através da Amazon.

2. O livro foi republicado em formato digital em 2001 por uma organizada chamada New Horizons for Learning em um site com o título “New Horizons”, no seguinte endereço: http://www.newhorizons.org/crfut_perkins.html (mas foi removido desse endereço).

3. O livro e, a fortiori, o artigo de D. N. Perkins, foram posteriormente republicados online, estando disponíveis, em 24 de Junho de 2018, nos seguintes endereços: http://archive.education.jhu.edu/PD/newhorizons/future/creating_the_future/index.cfm e http://archive.education.jhu.edu/PD/newhorizons/future/creating_the_future/crfut_perkins.cfm.

4. O texto original em Inglês, aqui traduzido por mim, é o seguinte: “One encompassing way to describe reflective intelligence is to say that it is made of ‘mindware’. Just as kitchenware consists in tools for working in the kitchen, and software consists in tools for working with your computer, mindware consists in tools for the mind. A piece of mindware is anything a person can learn — a strategy, an attitude, a habit — that extends the person’s general powers to think critically and creatively.”

5. “Mindware” é, portanto, um conceito equivalente a “Tools for the Mind“, ou “Mind Tools” — conceito ao qual se fará menção adiante.

[FIM DA NOTA]

O computador tem dois elementos básicos: hardware e software. (Há outros elementos que, em geral, são acrescentados: “powerware”: sem energia o hardware não funciona e sem o hardware o software não funciona; “peopleware: sem gente para programa-lo e coloca-lo em operação, ele é inútil; etc.).

Hardware é, por assim dizer, o corpo do computador. Esse corpo inclui:

* seu “cérebro” (a CPU), onde estão os “neurônios” que lhe permitem processar instruções que lhe são fornecidas;

* as células que são a base física de sua “memória”;

* seus “órgãos dos sentidos”, que são os periféricos, que lhe permitem obter dados (através de um teclado e, hoje em dia, através de outros meios mais sofisticados, como o tato ou a voz humana, etc.), dados esses que, uma vez processados, são disponibilizados (através de uma tela, de uma impressora, e, hoje em dia, através de um sistema de som, etc.);

* outros componentes de função não tão nobre mas não menos essencial.

Software é, por assim dizer, a linguagem e a lógica que nos permitem passar instruções ao “cérebro” do computador que lhe indicam o que fazer com os dados que estão em sua “memória” e como disponibilizar as informações resultantes desse processamento através de algum “periférico”.

Mindware, entretanto, é bem mais do que tudo isso: é a inteligência (chamêmo-la de “reflexiva”, como o fez Perkins) que permite que o ser humano aprenda, pense, imagine coisas, reflita sobre elas, e depois aja para cria-las.

Entre as coisas que o ser humano inventou (pensou, imaginou, refletiu e criou) estão as tecnologias. Numa definição simples, que eu há muito tempo criei para fazer sentido dessas coisas, tecnologia é o conjunto de tudo aquilo que, não existindo na natureza, o ser humano inventa (imagina e cria) para tornar sua vida mais simples ou agradável.

Há muitas formas de classificar as tecnologias, quase sempre binárias. Uma delas é entre ferramentas e brinquedos.

Ferramentas (tools, em Inglês) são tecnologias que estendem a força física do ser humano, sua habilidade locomotora, sua capacidade sensorial, e mesmo, como no caso do computador, seus poderes mentais. Ferramentas são coisas úteis, que nos permitem sustentar a nossa vida e sobreviver. Ferramentas são meios.

Brinquedos (toys, em Inglês) são tecnologias de outro tipo. O ser humano, aparentemente cansado de só fazer coisas úteis, de só lidar com meios, também inventou (imaginou e criou) brinquedos que nos divertem, que nos dão prazer, que, em alguns casos, nos elevam a alma e nos inspiram (como no caso da arte), que nos dão boas razões para querer sobreviver. Eles não têm nenhuma outra utilidade a não ser nos fazer felizes. Não são meios para alguma outra coisa. Brinquedos são fins em si mesmos. Eles nos permitem florescer e nos realizar como seres humanos.

Outra forma de classificar tecnologias é entre Entidades Tangíveis e Entidades intangíveis (hardware e software). Já falei em hardware e software no contexto do computador. Mas a tecnologia vai muito além (ou fica muito aquém) do computador. Uma enxada é hardware. Saber usa-la, definir as regras como ela pode e deve ser usada, é software. Um piano (ou qualquer outro instrumento musical) é hardware. Saber usa-lo, bem como as partituras que são elaboradas para que alguém o toque, e, também, a notação (ou linguagem) em que essas partituras são elaboradas, e as convenções definidas para transformar a partitura em sons através do teclado do piano, tudo isso é software.

Por aí se vê que mindware não é um componente do computador: é um componente do ser humano (que, entre outras coisas, criou e usa o computador, hardware e software). Mindware é o conjunto de tecnologias mentais (mind technologies), o conjunto das ferramentas e brinquedos mentais (mind tools and toys) que nos permitem aprender, pensar, imaginar coisas, refletir sobre elas, e depois agir para cria-las, transformando-as em realidade — sentindo prazer no que fazemos.

Sem mindware, não teria sido criado o computador; sem mindware, ele não pode ser colocado a bom uso — especialmente na educação. Como eu próprio disse há quase quarenta anos, mais importante do que aprender a usar (manejar) o computador (tanto em seu hardware como em seu software), é usar o computador para aprender mais e melhor… Para crianças, adolescentes e jovens, o computador é mais um brinquedo do que uma ferramenta… Por isso sentem prazer em brincar com ele.

A finalidade da Mindware Education (agora falo a empresa criada em 1997) é ajudar as pessoas a usar bem o computador — para aprender, sem dúvida, mas para fazer qualquer outra coisa que desejem. Por isso, a Mindware é Educação. Mindware é sinônimo da inteligência que nos permite usar o computador para aprender e para a pensar criativa, crítica e reflexivamente — para sustentar a nossa vida e, mais importante, para dar sentido a ela.

[BREVE BIBLIOGRAFIA]

Para uma discussão mais completa e abrangente do conceito de mindware, veja:

David Perkins, Outsmarting IQ: The Emerging Science of Learnable Intelligence (Free Press / Simon & Schuster, New York, 1995)

Kenneth Stanovich, What Intelligence Tests Miss: the Psychology of Rational Thought (New Haven and London: Yale University Press, 2009)

Richard E. Nesbitt, Mindware: Tools for Smart Thinking (Farrar, Strauss & Giroux, New York, 2015)

James Manktelow e Julian Birkinshaw, 100 Ways to Be a Better Boss: Mind Tools for Managers (John Wiley & Sons, Hoboken, New Jersey, 2018)

Se ficar realmente interessado no assunto, não deixe de visitar também o incrível site Mind Tools, no endereço https://www.mindtools.com.

[FIM DA BREVE BIBLIOGRAFIA]

[UMA NOTA FINAL]

Lembro-me perfeitamente de que adotei o termo “Mindware” como nome fantasia de minha empresa quando a criei, em 1997 — há mais de vinte anos. Logo em seguida criei um site para a empresa no domínio mindware.com.br. A primeira vez que reuni as reflexões que aqui apresento foi para uma palestra que dei na “Happy Hour” do memorável restaurante inventado (imaginado e criado) pelo meu querido amigo Rubem Alves, o Restaurante Dali, em Campinas, ao lado do Seminário Presbiteriano onde ele e eu estudamos. A palestra foi dada pouco tempo depois da abertura da empresa.

O restaurante abria diariamente, nos dias de semana e sábados, às 18h. Das 18h às 19h30 ele tinha uma “Happy Hour”, dedicada, um dia para filósofos, outro para teólogos, outro para escritores em prosa e poetas, outros para artistas, outro para educadores. Aos domingos, o restaurante só abria para o almoço — e este era preparado, ou sua feitura era coordenada, em regra, por um dos clientes… O restaurante era sempre uma festa — gastronômica e intelectual.

Que falta faz o Rubem Alves!

[FIM DA NOTA]

Bem-vindos à página da Mindware Education!

Salto, 24 de Junho de 2018

Eduardo Chaves
Presidente e CEO,
Mindware Education
chaves@mindware.education
https://mindware.education

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